Homem que esfaqueou idosa na Barra confessa crime, mas nega namoro

Vítima é viúva e conhece o agressor desde 2008, quando ele passou a trabalhar para ela. Eles moravam juntos há dois anos

Fabiano Silva Santos, de 36 anos, apontado como namorado da comerciante Lindinalva Santos Scardua, 75 anos, confessou que esfaqueou Lindinalva na manhã do último sábado (24), dentro do apartamento no Edifício Rosa Verena, na Barra, onde morava com ela havia dois anos. Ele, porém, negou que tivesse um relacionamento amoroso com a idosa. 

Fabiano morou durante dois anos no apartamento da idosa (Foto: Mauro Akin Nassor)

Fabiano disse que nunca se interessou por Lindinalva e que a relação era apenas de amizade. Ainda de acordo com o agressor, era a idosa quem tinha interesse nele e sentia muito ciúme. "Minha vida está toda destruída. Minha vida já era ruim por causa dessa perseguição que as pessoas inventaram, de que eu tinha algo com ela, mas eu nunca tive nada com ela, não. Eu ajudava ela e agora minha vida toda destruída", se defendeu, durante apresentação, na manhã desta quinta-feira (29), na 14ª Delegacia (Barra).

Fabiano se apresentou no final da tarde de quarta-feira (28) na delegacia, acompanhado de um advogado. De acordo com a delegada, ele deve ter ingerido algum sedativo e tinha a fala embolada. "Alguma estratégia da defesa para sugerir que ele tem algum problema mental", ponderou a delegada Carmen Dolores Bittencourt, titular da 14ª DT. 

Segundo o autor, cansado dos ciúmes de Lindinalva e da fama de que tinha um relacionamento com ela, ele esteve no prédio, que fica na avenida Princesa Isabel, próximo do Hospital Português, no sábado, para buscar seus pertences. Ela, então, teria impedido sua saída e, segundo ele, pegado a faca."Eu não quis esfaquear ela. Ela que veio pegando faca de lá e faca de cá", conta. Ele então teria pego a faca e revidado.A delegada classifica a versão dele como inconsistente. "Não se trata de legitima defesa, a ação dele foi desproporcional", afirmou a delegada.

Lindinalva foi ferida por quatro golpes de faca nas clavículas esquerda e direita, na região pélvica e costas. Fabiano fugiu do prédio pulando da varanda do primeiro andar, assim que percebeu que o apartamento estava sendo invadido por vizinhos e pelo porteiro que atendiam o pedido de socorro da idosa. Lindinalva recebeu os primeiros socorros de uma vizinha, que é médica, e levada para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde permanece internada. Segundo a Secretaria de Saúde (Sesab) Lindinálva tem quadro de saúde estável, apresenta melhorias e não corre risco de morte. Não há previsão de alta.

Polícia diz que familiares e vizinhos confirmam relacionamento
Lindinalva é viúva, mora sozinha e conhece o agressor desde 2008. Segundo a polícia, Fabiano trabalhava para ela em uma barraca no Imbuí e conta que passou a morar no apartamento após ela sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC), há dois anos. No dia do crime, a Polícia Militar chegou a informar que Fabiano havia sido identificado na rua como morador de rua acolhido pela vítima, mas a Polícia Civil confirmou que, antes de morar com a comerciante, Fabiano morava com a família em Sussuarana. 

A relação de trabalho se estreitou nos últimos anos, segundo acredita a delegada Carmem. "Ele começou a ajudar ela voluntariamente na barraca, depois virou uma espécie de assessor pessoal, pagando contas e fazendo tarefas dela e da barraca, embora ela seja bem ativa. Depois, virou esse relacionamento", disse a delegada Carmen Dolores Bittencourt, titular da 14ª Delegacia (Barra).

Ainda de acordo com a polícia, a filha e a neta da vítima, que vivem em Portugal, conheciam Fabiano e sabiam da relação. Elas estão retornando para Salvador para acompanhar a idosa. Os vizinhos também o reconheciam como companheiro, segundo a delegada. "Algo curioso é que, quando ela chegou no HGE, a ocorrência foi registrada como tendo sido o marido dela quem a esfaqueou. Isso foi relatado pela vizinha que a acompanhou até o hospital", relata a delegada.

Lindinalva ainda não contou a versão do crime para a polícia. A delegada esteve no hospital para ouvi-la, mas ela estava confusa por conta dos efeitos dos medicamentos. "Eu tinha representado pela prisão dele e já estávamos planejando fazer a prisão, mas ele se apresentou com o advogado", disse.  A médica que prestou o primeiro socorro também será ouvida.

Fabiano ficará custodiado na 14ª Delegacia e será encaminhado, após depoimento na tarde desta quinta-feira (29) , para a carceragem da 1ª Delegacia (Barris). Segundo a delegada ele está preso por causa de um pedido de prisão temporária para ser ouvido, após o depoimento será analisado por Carmen a necessidade de uma prisão preventiva.

Ainda de acordo com a delegada,  ele, que não tinha passagem policial, deve responder judicialmente pelo crime de tentativa de homicídio qualificado. "Confirmada a relação entre os dois, há o agravante do feminicídio. Trata-se de uma qualificação nova, aprovada em março, que torna mais pesada a pena para crimes que ocorrem em razão do gênero no ambiente doméstico", explica a delegada.

O CORREIO esteve no prédio, mas os vizinhos não quiseram comentar o caso.