O futuro do Governo de Dilma Rousseff estará em jogo no dia 29 de março. É a data em que se realizará a reunião do diretório nacional do PMDB, e caciques do partido do vice-presidente, Michel Temer, já sinalizaram que a aliança com o PT está por um fio. Uma das mais graves consequências para o Planalto deste possível desembarque peemedebista, além de uma redução maior ainda da governabilidade - que já é praticamente nula -, seria a perda de votos que podem garantir a presidenta no cargo até o final do mandato. Se confirmado, o PT terá de entrar em uma corrida contra o tempo para tentar garantir os 171 votos necessários para barrar o impeachment quando o processo for para votação no plenário da Câmara, o que deve ocorrer em abril ou maio. Com 67 deputados, o PMDB tem a maior bancada da Casa, e seria peça chave para derrubar (ou aprovar) o pedido de impedimento capitaneado por Eduardo Cunha (PMDB).
Nas últimas semanas algumas seções importantes do PMDB, como o diretório fluminense, que era até então um dos maiores defensores da aliança com o PT, sinalizou a intenção de votar pela saída do Governo. Nos últimos dias circularam versões de que mesmo alguns aliados de Dilma no Estado, entre eles o prefeito e o governador do Rio,Eduardo Paes e Luiz Pezão, respectivamente, e o líder da bancada na Câmara, Leonardo Picciani, podem migrar para a rebelião. A situação do Rio é uma espécie de termômetro do que o Governo deve esperar da reunião nacional, e o que se apresenta não parece positivo para o Planalto. No total, 125 membros do PMDB terão direito a voto no dia 29, e uma maioria simples basta para aprovar o rompimento ou a manutenção da aliança. A bancada fluminense é a maior, com direito a 12 votos no encontro.Estima-se que ao menos 30 peemedebistas na Câmara integram a chamada ala rebelde do partido, favorável a Cunha e hostil a Dilma, mas com o rompimento esse número deve aumentar. Principalmente porque os sete ministérios que a legenda ocupa no Governo teriam de ser entregues caso se oficialize o desembarque.
O crucial grupo do vice Michel Temer, entre eles os ex-ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha, já dão o rompimento como certo. Temer não se manifestou publicamente sobre a questão, mas já deu sinais de que concorda com a ruptura. Ele cancelou uma viagem a Portugal, onde participaria de evento promovido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes para, de acordo com nota de sua assessoria, para "intensificar as conversas" referentes ao encontro. Caso o impeachment de Dilma se concretize, Temer herdará a presidência.
A eventual saída do PMDB poderia levar a reboque outros partidos da base. O PP, por exemplo, já sinalizou que deve seguir os passos da legenda de Temer. Em 17 de março o pastor Marcos Pereira, presidente nacional do PRB, anunciou que sua sigla deixaria o Governo, que se vê cada vez mais isolado no Congresso. Dilma tenta como pode frear a debandada. Nesta quinta-feira o Planalto exonerou Antônio Henrique de Carvalho Pires, então presidente da Fundação Nacional de Saúde, indicado pelo vice-presidente. A medida foi considerada uma retaliação da presidenta à decisão de lideranças do PMDB de manter a reunião que decidirá o futuro da aliança para o dia 29. Antes, o Planalto havia tentado, sem sucesso, adiar o encontro em uma tentativa de recompor a já esgarçada aliança.
Ministros do Governo confiam que conseguirão barrar o rompimento dentro do diretório nacional
A relação entre os dois partidos se deteriorou ainda mais depois que Dilma convidou o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) para assumir a secretaria de Aviação Civil. A indicação, feita após a executiva nacional do PMDB proibir, em convenção, que seus correligionários aceitassem cargos no Governo, foi vista como uma afronta. Nem a entrada na negociação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece ter surtido efeito.
Esquadrão governista
O cenário no PMDB, no entanto, não é homogêneo. Ministros do Governo confiam que conseguirão barrar o rompimento dentro do diretório nacional.Katia Abreu, Marcelo Castro e Celso Pansera foram escalados pelo Planalto para convencer outros peemedebistas a se opor ao desembarque. Por outro lado, deputados do PMDB governista desconfiam da possibilidade de manter a aliança. "A tendência é de desembarque, mas tudo pode acontecer até o dia 29", diz o deputado maranhense Hildo Rocha. Entre os deputados de oposição, o clima é de "já rompeu".
"Não vamos falar em números, mas sei que teremos os votos necessários. 14 diretórios pediram para antecipar a reunião que estava marcada para 12 de abril. Vejo isso como um indicativo", afirmou o gaúcho Darcisio Perondi. O PMDB de seu Estado já oficializou a posição pelo rompimento. As executivas estaduais de Santa Catarina e do Espírito Santo também já se declararam favoráveis ao desembarque.
A ala ligada ao presidente do Senado, Renan Calheiros, é mais cautelosa. O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, por exemplo, mudou de posicionamento nos últimos dias. Na véspera da convenção, há duas semanas, Eunício disse ao EL PAÍS que o governo Dilma nem existia mais. Agora foi mais cauteloso dizendo que, se houver rompimento, o PMDB não será irresponsável no Congresso e continuará votando nos projetos de interesse nacional. Ele também desvinculou um eventual desembarque ao apoio automático pelo impeachment. "Uma coisa não tem nada a ver com a outra", afirmou.
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