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A ideia de mudança da nomenclatura se deu depois que estudo mostrou que as alterações provocadas pelo zika vão além da microcefalia

Professor Antonio Raimundo: zika é síndrome
O obstetra Manoel Sarno e o professor de clínica médica Antonio Raimundo Almeida, ambos do Hospital Roberto Santos, propuseram à comunidade médica a terminologia “síndrome da zika congênita” para dar conta de todas as manifestações relacionadas com o zika.
A ideia de mudança da nomenclatura se deu depois que um estudo realizado pelos dois médicos baianos, juntamente com pesquisadores americanos, mostrou que as alterações provocadas pelo zika vão além da microcefalia.
O caso de uma mulher grávida do interior baiano, atendida na unidade em janeiro deste ano, mostrou que o zika pode causar a hidranencefalia - quando a massa cerebral desaparece e a cavidade é tomada por um líquido - e a hidropsia fetal - edema generalizado no corpo.
Mais: bebês afetados  apresentam lesões oftalmológicas, auditivas, dilatações do sistema ventricular cerebral, acúmulo de líquido no cérebro e alterações fixas dos membros (artrogripose).
“Por isso é uma síndrome. O espectro de doenças é muito grande. O vírus causa outras alterações que não só a microcefalia. As síndromes são conjuntos de sinais com padrões semelhantes que se repetem. É o caso que estamos observando com o zika”, disse Manoel Sarno, especialista em medicina fetal. Durante a gravidez, o feto pesquisado pelos médicos cresceu normalmente até a 14ª semana, quando foram identificadas as primeiras alterações. 
Bebê baiano com zika tinha líquidos no cérebro; 1º caso alarma pesquisadores americanos
Na 18ª semana, lesões cerebrais graves já eram observadas. No final da gestação, foram identificadas a hidranencefalia e a hidropsia, manifestações relacionadas com o zika pela primeira vez descritas em estudos científicos no mundo.
“São quatro compartimentos: o tecido subcutâneo, embaixo da pele, a pleura no pulmão, o pericárdio que envolve o coração e o peritônio dentro da barriga. Dos quatro, tinha líquido em três. Só não tinha no coração”, observou Sarno. 
Os médicos ficaram surpresos com o fato de a mãe, que tem 20 anos, não ter relatado sintomas relacionados com o zika. O vírus foi encontrado no líquido aminiótico, no líquor (líquido que banha o cérebro) e na medula espinhal do feto.
Mesmo com a gravidade do quadro, é difícil avaliar os riscos  para as mulheres e outros bebês, explica Antonio Raimundo,  professor da Ufba e diretor-geral do Roberto Santos. “Pelo grau de destruição do cérebro, trata-se de um caso extremamente grave. Mas ainda é um caso isolado”.     
Iceberg
Para ele, a microcefalia é apenas “a ponta do iceberg” dos problemas que podem ser causados pelo zika. “Quando a gente vê que existem bebês que não têm microcefalia e ao mesmo tempo têm alterações, a gente conclui que tem mais coisa por aí. São alterações auditivas, nos olhos e no cérebro sem a microcefalia. É a ponta do iceberg”, explicou ele. 
Obstetra Manoel Sarno: expectro da zika é grande
Na corrida contra o vírus da zika,  pesquisadores do Roberto Santos e de universidades americanas se uniram em Salvador. A equipe conhecida como Salvador Fast Report Team (Time de Respostas Rápidas de Salvador) trabalha dia e noite na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e na Ufba para tentar desvendar os mistérios do zika.
O professor Albert Ko, da Universidade de Yale, nos EUA, e Scott Weaver, da Universidade do Texas, estão em Salvador para contribuir nas pesquisas. Segundo Antonio Raimundo, o professor Ko é um superespecialista, “um gênio”.
Já o professor Scott faz parte de um grupo mundial de estudos sobre arboviroses, dos quais fazem parte os vírus da dengue e da zika. 
“Estamos aprendendo muito com eles, mas também estamos ensinando. As dúvidas de todos são comuns e temos mais perguntas que respostas”, disse o professor. O banco de dados do HGRS já registra 80 casos de microcefalia desde julho do anos passado.

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